quarta-feira, 13 de maio de 2009

História da construção naval - Parte II

A Construção Naval do Brasil

Estaleiro Ponta da Areia - RJ

A história da construção naval brasileira remonta aos tempos coloniais. Os portugueses, que na época da Descoberta eram grandes construtores navais; logo perceberam as vantagens de construir navios aqui, aproveitando a abundância e excelência das madeiras. As primeiras embarcações de tipo europeu construídas foram dois bergantins feitos no Rio de Janeiro em 1531.


Muitos estaleiros foram fundados em vários pontos do nosso litoral, mas, o mais importante, e que continuou como o mais importante até meados do Século XIX, foi o Arsenal de Marinha da Bahia, em Salvador, fundado por Thomé de Souza. Em 1763, foi fundado o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro; cuja primeira construção foi a nau S. Sebastião, de 1767. Entretanto, na área do Rio de Janeiro, a grande façanha, foi a construção da nau Padre Eterno, por volta de 1670, dita como sendo o maior navio do seu tempo em todo mundo.

Na primeira metade do Século XIX, o Arsenal da Bahia foi o maior estaleiro construtor na colônia, enquanto que o Arsenal do Rio de Janeiro era principalmente um centro de reparos navais. Essa circunstância forçou a modernização do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro que precisava atender os primeiros navios a vapor que começavam a chegar do exterior. Assim, a partir de 1840, foi contínua e notável a ampliação e modernização do Arsenal do Rio, com a implantação de novas oficinas e com a volta dos primeiros brasileiros com curso formal de engenharia naval feito na Europa.

Isso garantiu ao Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro pioneirismos notáveis no Brasil, como a construção do primeiro navio a hélice em 1852, o primeiro navio encouraçado em 1865, e o primeiro de construção inteiramente metálica em 1883. Em 1890, foi construído o cruzador Tamandaré, de 4.537tpb, navio cujo porte só seria ultrapassado 72 anos depois, em 1962. Outro centro importante de construção naval no Século XIX, foi o estaleiro de Ponta d´Areia, do Visconde de Mauá, que construiu mais de uma centena de navios.

Mesmo assim, em 1890, o Arsenal do Rio estagnou-se e os anos seguintes foram de decadência e quase total paralisação da construção naval brasileira. Houve nesse período, algumas tentativas de reativação, como a construção em 1919/22, de três navios mercantes no estaleiro de Henrique Lage, na Ilha do Viana; dois desses navios tinham 3.500 t. Outro fato interessante foi a construção, nesse mesmo estaleiro, do pequeno petroleiro 340-B, de 1.500 t, por encomenda do governo argentino, tendo sido assim o primeiro navio construído para exportação.

O Estado Novo em 1937 trouxe uma nova dinâmica à política econômica e de desenvolvimento do Brasil. Essa nova postura permitiu a retomada da construção naval no Brasil, com o lançamento ao mar do Monitor Fluvial Parnaíba, no novo Arsenal de Marinha da Ilha das Cobras (atual Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro - AMRJ).

Foi iniciado um período de grande volume de obras navais. Foram construídos seis navios mineiros; três grandes contra-torpedeiros da classe Marcílio Dias, esses, navios de estrutura soldada que representaram um grande progresso tecnológico. Depois vieram os seis contra-torpedeiros da classe Amazonas e vários outros navios menores, destacando-se os navios hidrográficos da classe Argus, no final da década de 1950, que tiveram como novidades a superestrutura de alumínio e a construção pelo sistema de acabamento avançado, com a pré-fabricação de grandes blocos de estrutura.

Mas, mesmo com o grande desenvolvimento da capacidade técnica da construção naval nacional; nossa frota mercante continuava obsoleta e grande parte das mercadorias exportadas não usava navios com bandeira brasileira para transporte.

Esse quadro só começou a mudar a partir de 1958, com a criação do Fundo de Marinha Mercante; com a organização do GEICON (Grupo Executivo da Indústria de Construção Naval), e da Comissão de Marinha Mercante, que faziam parte do Plano de Metas do Governo Juscelino Kubitscheck. Foi criado um fundo para financiamento de embarcações a ser gerido pela SUNAMAM – Superintendência Nacional da Marinha Mercante e numa decisão estratégica o governo determinou a obrigatoriedade de utilização de navios de bandeira nacional em determinadas rotas.

Durante o período de 1962 até 1968 a capacidade ociosa de fabricação naval era em torno de 40%. Durante o período de 1968 a 1970 foi desenvolvido Programa Estratégico de Desenvolvimento Federal, onde a SUNAMAM encomendou 37 navios totalizando 351.000 TPB. De 1971 a 1975 foi desenvolvido o I Programa de Construção Naval com a construção de 1.590.200 TPB. De 1975 a 1979 foi desenvolvido o II Programa de Construção Naval com a construção de 5.331.500 TPB.

No ponto máximo de aquecimento da indústria naval, o Brasil chegou a ocupar o segundo lugar em produção naval no mundo. Em 1979, chegamos a construir 50 navios, totalizando 1.394.980 t, sendo nove navios para exportação; a indústria tinha nesse ano quase 40.000 empregados diretos.

Entretanto, como indústria naval brasileira era altamente subsidiada pelo governo federal. No inicio dos anos 80, ao final do II PCN, muitas embarcações estavam com atrasos na fabricação. Em meados da década de 80 foram descobertos muitos desvios de verbas na fabricação destes navios. A imprensa noticiou este fato chamando-o de “o escândalo da SUNAMAM”.

O Docefjord foi considerado o maior do seu tipo no mundo quando foi lançado.

Os subsídios para a indústria naval foram cortados, o fundo da Marinha Mercante começou a ser gerido pelo BNDES, e a indústria naval entrou numa grave. A produção despencou drasticamente, e muitos estaleiros foram fechados. A década de 90 foi um período difícil para a indústria naval. Grandes estaleiros, como Ishikawajima e Verolme, fecharam suas portas, com demissões em massa nestas empresas.

Atualmente a frota nacional é pequena, embora exista uma necessidade de aquisição de novas embarcações para atender à demanda de transporte de cargas. A dificuldade maior é a obtenção de financiamentos para estas fabricações. Mesmo assim, apesar da crise essa indústria realizou recentemente uma façanha, a construção de um navio gaseiro de 8.250 t, com tanques de aço inoxidável, para o transporte criogênico de gases em temperaturas de até - 104 ºC.

Na área de petróleo, com a descoberta de novos campos e aumento da produção, a indústria naval esta ressurgindo adaptada à demanda do mercado. Os antigos estaleiros, que fecharam suas portas na década passada, estão em plena atividade. Eles atendem a fabricação e reforma de plataformas, FPSO (petroleiro reformado para produção e armazenamento de petróleo), embarcações de apoio, etc.

Por outro lado, a construção naval militar teve um grande impulso em 1972 com a construção das duas fragatas classe Niterói, a última das quais lançada ao mar em 1975. São navios modernos, com complexos e sofisticados sistemas de armas, máquinas e sensores, cuja construção representou um grande desafio e um enorme avanço tecnológico. Seguiu-se a construção das corvetas classe Inhaúma, que, além de igual complexidade, eram os primeiros navios de combate de projeto nacional depois do cruzador Tamandaré, de 1890. Duas unidades foram construídas no Arsenal de Marinha, e duas na indústria privada. Entretanto, o maior desafio foi a construção dos submarinos classe Tupi, de projeto alemão, também no Arsenal de Marinha, que colocaram o Brasil no restrito grupo de países capazes de construir submarinos.



4 comentários:

  1. olá boa noite
    meu nome é misael e estou fazendo uma pesquisa sobre a indústria naval no rio de janeiro
    vc poderia me ajudar com mais alguns dados e suas fontes
    muito obrigado
    e-mail misahenri@hotmail.com

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  2. Ola.
    Gostaria de saber da onde você tirou este gráfico
    estou fazendo minha monografia sobre a construção naval e coloquei este grafico, mas preciso saber a fonte.
    obrigada.

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  3. Fortaleza, agosto de 2012

    Caro André,

    Sou professor da Universidade Estadual do Ceará e, no momento, estou produzindo uma obra intitulada Quantos Brasis, de certo modo inédita no País, por tratar-se de uma abordagem interdisciplinar entre Literatura, Geografia e História do Brasil, que deverá ultrapassar as 2.000 páginas.

    Por tratar-se de uma obra volumosa e realizada com recursos de um professor universitário e algumas poucas doações, venho solicitar a V. Sa. o email do autor de uma foto encontrada na URL http://quilha.blogspot.com.br/2009/05/historia-da-construcao-naval-parte-ii.html, de Estaleiro Ponta da Areia - RJ, a fim de que possamos pedir autorização para publicá-la em nosso trabalho.

    Estamos dando, como é justo além de legal, o devido crédito ao autor de cada fotografia (obra de arte), momento em que aproveitamos para agradecer seu gesto de compreensão e colaboração com esta iniciativa cultural.

    Gratíssimo,
    Prof. Francisco Coêlho Sampaio

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